quinta-feira, setembro 18, 2008

A melhor rede social

Ontem um comentário do RicBit quase me passa despercebido, mas mudou minha vida: "O Google Reader é uma rede social."

Eu sou completamente viciado em Google Reader. Mais do que e-mail, passo o dia clicando no tab eterno do Firefox pra ver o que tem de novo. A melhor parte, sempre, é ler o que os meus "amigos" compartilharam e também procurar coisas legais pra compartilhar. Não há como negar que eu passo muito mais tempo no Reader do que no orkut.

Só que o Reader é um leitor de feeds, certo? Não é uma rede social de verdade. Não dá pra fazer praticamente nada das coisas que a gente faz nas redes sociais, como mandar mensagens pros amigos, participar de grupos de discussão ou postar fotos e vídeos. Acontece que, pensando objetivamente, hoje o Reader é a principal maneira pela qual eu me comunico, interajo, e aprendo mais sobre os meus amigos online. Vou explicar.

Pelo Reader eu recebo o conteúdo gerado por diversas pessoas que eu acho interessantes. Algumas delas eu não conheço pessoalmente e provavelmente nunca vou conhecer, porque tem muito mais gente interessada no conteúdo delas do que elas são capazes de interagir. São os "famosos", como o economista Tyler Cowen que publica o excelente blog Marginal Revolution. Outras são pessoas que eu conheço e que também geram conteúdo, como o blog do Kenji, Talk is Cheap.

Aí as coisas começam a ficar mais sociais. Quando eu acho algum conteúdo legal sobre o qual eu gostaria de discutir com meus amigos, eu aperto o botãozinho de "share". Nesse momento, várias coisas mágicas podem acontecer:
  • meus amigos ficam sabendo que eu estou interessado nesse assunto, o que revela a eles um pouco mais sobre minha personalidade;
  • meus amigos lêem aquele conteúdo sobre uma perspectiva diferente, a de "por que o Torsten compartilhou isso?" - essa atitude muda a forma como eles absorvem o conteúdo;
  • meus amigos acham legal e também compartilham com os seus amigos, espalhando as notícias
  • eu vejo que meus amigos também compartilharam e me sinto validado, feliz e orgulhoso por ter compartilhado algo que eles também gostaram.
Isso tudo antes dos comentários, que adicionam uma nova dimensão. Quanto alguém compartilha e acrescenta um comentário, a notícia muda totalmente de figura. Ela agora é o ponto de partida pra uma discussão, ou pra um entendimento ainda maior sobre a personalidade da pessoa.

Ontem choveu granizo. Em uma rede social, ou por e-mail, eu poderia mandar uma mensagem pros meus amigos dizendo "A Guta teve de correr lá fora e jogar um edredon em cima do carro pra ele não amassar todo como em 2005". No Reader eu faço a mesma coisa, mas melhor: na internet vai haver alguma notícia interessante falando sobre o granizo e comparando com o toró de 2005, dando números. Eu então compartilho essa notícia e acrescento o mesmo comentário acima. A diferença é que meu comentário vem acompanhado de uma riqueza de informações que alimentam e acrescentam detalhes ao que eu quero dizer.

O Reader também serve pra compartilhar qualquer conteúdo que eu crie. É só eu postar minhas fotos no Picasa ou Blogger e compartilhar o feed que vem de lá, e pronto: meus amigos vêem minhas fotos.

Ao Reader faltam muitas coisas, como a possibilidade de se criar conversas em torno dos comentários, de organizar seu conteúdo, de compartilhar só com pessoas específicas. Não dá pra mandar mensagens individuais, nem pra postar seu próprio conteúdo. Não dá pra gerenciar sua rede de amigos direito. Mesmo assim, minhas interações socias pelo Reader são muito mais ricas do que as que tenho em qualquer outro site.

Vou repetir em itálico: minhas interações socias pelo Reader são muito mais ricas do que as que tenho em qualquer outro site.

Eu sei que o Cabrito gosta de videogames. Sei o Kenji gosta de gatos e de cozinhar. O Ademir curte samba e choro, o Serboncini lê os mesmos blogs que eu. Quanto a gente se vê "ao vivo", a gente sempre tem muito assunto pra conversar. Minhas relações com todos eles são mais ricas por causa do Reader.

Ah, dirá você, incrédulo, mas isso é porque você é um geek, com amigos geeks, e só geeks usam o Reader. Pessoais normais não usam.

Bullshit, digo eu. Pode ser sim que pessoas normais não usem, mas deveriam usar. Veja bem, uma rede social comum é baseada em geração de conteúdo pelos usuários: mensagens, fotos, vídeos, e por aí vai. Algumas pessoas geram muito mais conteúdo do que outras, o que é normal. Os limites da rede, no entanto, estão na capacidade das pessoas de gerarem conteúdo. A maior parte do conteúdo é ruído. Quando surge conteúdo interessante, ele se propaga rapidamente pela rede.

No Reader, além dos geradores de conteúdo que participam da rede, temos os achadores de conteúdo que trazem conteúdo de alta qualidade da internet para dentro da rede. Esse conteúdo, quando compartilhado, alimenta as relações sociais de uma forma muito mais rica. A rede não precisa de muitos "achadores". Pouca gente precisa saber o que é um feed; só precisam saber propagar o conteúdo - um único clique.

Achei a melhor rede social de todas, sem a menor sombra de dúvida. Eu achava que eu não participava de redes sociais, mas eu estava enganado: eu sou viciado em uma delas e não consigo imaginar minha vida sem ela.

Que dia a gente vai colocar o Reader dentro do orkut, mesmo?

quinta-feira, setembro 11, 2008

Como dar uma palestra bacanérrima

Coloquei online os slides da minha meta-palestra sobre como dar palestras. O Google Presentations realmente cresceu e virou gente grande, ficou bacana. Veja em:

http://docs.google.com/Presentation?id=dfpch9ks_30gjm3dtdf

Dá também pra fazer embed, olha que legal:

segunda-feira, setembro 08, 2008

Mulheres na informática - desisto

Eu era o maior partidário do incentivo às mulheres na informática. Sempre apoiei todo tipo de iniciativa pra trazer mais mulheres para a computação. Estava até montando um programa de visitas a escolas de segundo grau pra dar esse tipo de incentivo. Fazia isso porque acredito realmente que as empresas de informática estariam melhores se tivessemos mais mulheres. Elas trazem perspectivas e formas de trabalho diferentes que tornam tudo mais saudável.

Eu continuo acreditando nisso, mas outro dia me toquei em outro ponto. Tudo bem, eu acredito que seria melhor pra mim e pra empresa onde eu trabalho se houvesse mais mulheres trabalhando nas nossas equipes. Mas seria melhor pra elas? Sinceramente, acho que não.

A informática ainda é muito discriminatória. Os ambientes de trabalho não são agradáveis para as mulheres, chegando a serem hostis. Existe um culto ao geek que compila o kernel do Linux antes do café da manhã, depois de virar a noite no Wii. O bom profissional é aquele fuçador, virador, que implementa emuladores interessantes nas horas vagas. Eu não conheço muitas mulheres com esse perfil.

O problema maior, no entanto, nem é esse. É que, secretamente, muitos homens ainda acham que as mulheres não são programadoras tão boas quanto eles. Eu mesmo conheço vários. Não dá pra trabalhar em um ambiente onde já se sai em desvantagem e é preciso constantemente provar às pessoas que elas estão erradas a seu respeito. Eu não quero que minhas filhas façam computação.

Se tiver algum homem me lendo que nunca pensou que, na média, os homens são melhores programadores do que as mulheres, por favor me corrija. Mas seja honesto.

O voto probabilístico

Muita gente sabe que eu não gosto de democracia e vivo procurando alternativas. A minha preferida é de ter um ditador que é escolhido por sete santos incorruptíveis que se reunem todos os anos pra decidir se o ditador deve ou não ser executado. Não consegui muitos adeptos a essa ainda. Eis minha próxima alternativa: o voto probabilistico.

Funciona assim: todo mundo vota em seus candidatos, normalmente. Ao final das eleições, coloca-se todos os votos no mesmo balaio e tira-se um voto, aleatóriamente. Esse é o vencedor das eleições. Se tiverem mais vagas, continua-se tirando votos do balaio. Pronto.

Essa abordagem tem inúmeras vantagens:
  • acaba com a "tirania da maioria" em que as minorias nunca têm representantes eleitos;
  • na média, mantém os desejos da maioria, pois os candidatos mais votados têm mais chances de vencer;
  • introduz um elemento de caos e aleatoriedade que impede que uma mesma linha de pensamento domine um estado por anos a fio;
  • aumenta o valor do voto do indivíduo, pois seu voto dá a seu candidato uma chance real de vencer, mesmo que ele esteja em último lugar nas pesquisas.
Com certeza eu não fui o primeiro a pensar nisso mas estou com preguiça de pesquisar, se alguém souber o nome oficial dessa forma de escolha me avise, por favor. Qual é a chance da gente conseguir que se implemente isso nas próximas eleições?