quarta-feira, janeiro 14, 2009

Harry Potter, o salvador da pátria

Me chamou a atenção um comentário do Robson em um share que ele fez sobre o site de rede social baseada em livros chamado skoob (http://www.skoob.com.br): 6 dos 7 livros mais lidos são da série Harry Potter.

Ora, isso certamente diz mais a respeito do público que usa o skoob do que sobre os hábitos da população brasileira em geral... mas será mesmo? Procurando um pouco, achei essa notícia com alguns dados sobre os hábitos de leitura dos brasileiros. Segundo o artigo, 39% dos leitores do Brasil têm entre 5 e 17 anos. Ora, essa faixa etária (de acordo com dados do IBGE de 2000) compreende apenas cerca de 26% da população brasileira, ou seja, os jovens lêem mais do que os adultos. Tudo bem que muitos deles só lêem porque são obrigados em seus deveres de escola. Mesmo assim... tá lá o Harry Potter em quarto lugar entre os livros mais lidos. Que eu saiba, as escolas não estão obrigando os meninos a lerem Harry Potter.

Não há como se negar que no Brasil se lê menos que na América do Norte ou na Europa. Já vi diversas teorias pra explicar isso, desde o preço dos livros à influência das novelas de TV, mas eu tenho minha própria teoria: ler em português é mais difícil que em outras línguas. Usando o inglês como exemplo, pegue um romance qualquer. O texto escrito é muito semelhante à língua falada. Se eu fosse contar a estória pra você verbalmente, sairia daquele jeito. Em português isso não é verdade. O português formal escrito é bem distante do português coloquial falado, pelo menos no Brasil. Leia esse blog, mesmo. Não é assim que eu te falaria tudo que estou escrevendo aqui. O fato da língua escrita ser distante da falada torna a leitura mais difícil e menos atraente, daí menos leitores.

Pense bem agora que maravilha está sendo para o Brasil o fenômeno Harry Potter. Estamos formando uma geração de jovens que lê por prazer e não por obrigação, que faz fila nas portas das livrarias pra comprar livros no dia do lançamento! Na minha época isso era totalmente desconhecido. As opções de livros escritos para jovens eram extremamente limitadas. Hoje existem seções inteiras nas livrarias só para eles. Com 15 anos eu li Dom Casmurro (está lá na lista dos mais lidos) e Deus me livre, que chatice foi. Jorge Amado pelo menos tinha bastante sexo, mas era chato demais também.

Hoje temos grandes livrarias em shopping centers e online, acesso fácil a livros e, o mais importante de tudo, livros que fazem os jovens gostarem de ler. Quem sabe daqui a uns 20 anos o Brasil não vai ter melhorado muito por conta disso? Nessa época, é bom olhar pra trás e mandar uma pequenina fração do nosso PIB em agradecimento à senhora já bilionária J.K. Rowling.

Aliás, falando nela, vale a pena assistir ao inspirador discurso dela aos formandos de Harvard (em duas partes, abaixo):

Parte 1:


Parte 2:

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Trabalhar duro é bom para a sua carreira. Não trabalhar duro também pode ser. Escolha um.

Acabei de ler dois livros interessantes que trazem mensagens complementares. O primeiro é Outliers, do autor Malcolm Gladwell, que também escreveu os muito interessantes The Tipping Point e Blink. Os livros dele são todos muito divertidos porque ele expõe as teorias de forma semelhante a estórias de detetive, contando um caso e depois debulhando o caso minuciosamente até chegar a uma conclusão lógica.

Outliers fala sobre pessoas consideradas de grande sucesso e busca as razões por trás desse sucesso. O autor conclui que o sucesso vem de uma combinação de fatores que incluem o legado cultural do indivíduo, o lugar e época em que nasceu e, acima de tudo, muito trabalho duro. O que se chama de "talento nato" não existe.

Em um dos capítulos, ele teoriza sobre por que os resultados em testes de matemática de alunos de países orientais são muito superiores aos de alunos de países ocidentais. Os dados que ele apresenta são simples e difíceis de refutar: para se aprender matemática, é necessário tempo e esforço; nos países orientais, dedica-se mais tempo aos estudos, inclusive com períodos de férias mais curtos; QED, os orientais aprendem mais matemática.

Gladwell vai mais além, teorizando que o motivo pelo qual no oriente se dedica mais tempo e esforço aos estudos e ao trabalho em geral é o legado cultural vindo do cultivo de arroz, que é extremamente trabalhoso e onde não se tem períodos de folga durante o ano. Tudo isso se traduz no que se observa hoje sobre o trabalho no oriente: muito eficiente, de grande qualidade e produtividade. No entanto, a teoria não explica uma das deficiências do progresso no oriente - o fato da grande maioria das inovações científicas e tecnológicas dos últimos séculos terem acontecido nos países ocidentais. Se o oriente é tão produtivo, por que não é inovador também?

A resposta parece vir no segundo livro, Slack, do Tom DeMarco, que também é autor do clássico Peopleware. Eu gosto do Tom DeMarco porque ele usa o senso comum e alguns dados pra combater as práticas gerenciais esquisitas que viram moda por aí. O ponto principal do livro é que em geral as empresas tentam otimizar o tempo que as pessoas passam trabalhando de forma a maximizar a produtividade e minimizar o tempo "desperdiçado". No entanto, isso impede a mudança e a inovação, pois se todo mundo está trabalhando em tarefas pré-concebidas o tempo todo, não há como reagir a mudanças no meio e nem sobra espaço pra fazer tentativas mal-sucedidas e inovar. Pra que haja mudanças e flexibilidade é necessário haver uma certa folga no trabalho, o "slack" do título. Prazos apertados e pressão por resultados são os inimigos da adaptabilidade.

Parece bom senso, mas também explica o fenômeno da falta de inovação no oriente: muito tempo dedicado ao trabalho e pouco tempo de papo pro ar pensando em jeitos de se trabalhar menos e ficar mais tempo de papo pro ar.

Pra terminar, um dos excelentes comerciais da IBM sobre inovação: